sábado, 22 de outubro de 2011

Prémio Nobel da Literatura de 2011


O poeta sueco Tomas Tranströmer é o Prémio Nobel da Literatura de 2011. Foi anunciado em Estocolmo pela Academia Sueca.
Tomas Tranströmer, 80 anos, psicólogo de formação, sofreu um AVC em 1990 e perdeu as faculdades motoras, pelo que não consegue falar.  O Prémio Nobel da Literatura 2011 vive numa ilha e depois de ter ficado doente publicou três obras. Escreve sobre a morte, a história, a memória e é conhecido pelas suas metáforas.

Desde 1973 que Tomas Tranströmer é o poeta sueco mais traduzido no mundo e recebeu o Prémio Literário do Conselho Nórdico em 1990. Há 40 anos que um autor sueco não recebia este prémio. 
Eis aqui três poemas que vos permitirão conhecer um pouco da obra deste poeta:

A ÁRVORE E A NUVEM
Uma árvore anda de aqui para ali sob a chuva,
com pressa, ante nós, derramando-se na cinza.
Leva um recado. Da chuva arranca vida
como um melro ante um jardim de fruta.
Quando a chuva cessa, detém-se a árvore.
Vislumbramo-la direita, quieta em noites claras,
à espera, como nós, do instante
em que flocos de neve floresçam no espaço.
(1962)

DESDE A MONTANHA
Estou na montanha e vejo a enseada.
Os barcos descansam sobre a superfície do verão.
«Somos sonâmbulos. Luas vagabundas.»
Isso dizem as velas brancas.
«Deslizamos por uma casa adormecida.
Abrimos as portas lentamente.
Assomamo-nos à liberdade.»
Isso dizem as velas brancas.
Um dia vi navegar os desejos do mundo.
Todos, no mesmo rumo – uma só frota.
«Agora estamos dispersos. Séquito de ninguém.»
Isso dizem as velas brancas.
(1962)

PÁSSAROS MATINAIS
Desperto o automóvel
que tem o pára-brisas coberto de pólen.
Coloco os óculos de sol.
O canto dos pássaros escurece.
Enquanto isso outro homem compra um diário
na estação de comboio
junto a um grande vagão de carga
completamente vermelho de ferrugem
que cintila ao sol.
Não há vazios por aqui.
Cruza o calor da primavera um corredor frio
por onde alguém entra depressa
e conta que como foi caluniado

até na Direcção.
Por uma parte de trás da paisagem
chega a gralha
negra e branca. Pássaro agoirento.
E o melro que se move em todas as direcções
até que tudo seja um desenho a carvão,
salvo a roupa branca na corda de estender:
um coro da Palestina:
Não há vazios por aqui.
É fantástico sentir como cresce o meu poema
enquanto me vou encolhendo
Cresce, ocupa o meu lugar.
Desloca-me.
Expulsa-me do ninho.
O poema está pronto.

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